quarta-feira, 5 de maio de 2010

Sobre ela

“Certa vez conheci uma garota, de coração bom, porém, muito ingênua. Se for bonita, feia, gorda, magra ou se já havia amado, não vem ao caso. O que interessa é que ela tinha o dom de se jogar de cabeça em suas relações. Eram sempre tão intensas que acabavam por se esgotar. Não dos dois lados, apenas para ela. Então chegava a dor sussurrando em seu ouvido: Ele sofrerá por você, a culpa é sua...”
Incrível como a dor é capaz de fechar as pessoas. A dor em si não digo, mas o trauma que ela causa. Faz com que o exterior vá se tornando mais denso, impenetrável. Um coração calejado. Lastimável. Então percebi algo que nunca me disseram e terão que concordar. Até a álgida dor, tem seus sentimentos.
“Percebendo a impenetrabilidade da menina, a dor com sua única habilidade resolveu ajudá-la. Aparentemente piorou a situação, mas não foi bem assim. Tal funesto período, resultou na liquefação da capa de gelo que a cobria...”
E aí está. O que por ela foi colocado, por ela foi retirado. Reprodução do mar.
Hoje a garota arrisca-se novamente, vestiu o sorriso que há muito estava trancafiado em seu armário e seguiu em frente. Segue o tempo com calma e a maturidade adquirida também ajuda. Vaga por aí correndo atrás de seus sonhos. Periga levar outro tombo, mas está disposta a aventurar-se. Seja em praças, igrejas, esteiras rolantes ou lojas de móveis; ela vai, não duvide.
Boa sorte, menina. Vejo muita sorte em sua nova jornada.

Depois da tempestade, vem a calmaria (creio que um pouco apimentada).

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O mapa astral


Sempre que estou a fazer nada, vem aquela vontade de ler o horóscopo para ver se algo de interessante irá acontecer, já que no horizonte mais próximo nada me surge. Vou até meu site rotineiro de notícias e babaquices e abro-o. Leio. Desaponto-me. É sempre tão sem graça que até aumenta o desânimo. Então vou até a descrição de meu signo, que é sempre a mesma, mas é interessante. Áries, signo criativo, inquieto. Assim que essas palavras rebatem em minha cabeça, juro pra vocês, me vem uma inspiração inquietante, um dom artístico, e a primeira coisa que passar na minha frente vira alvo da minha obra de arte. Hoje, foi minha cadela, a Hani, que embora receba-me afoita na maioria das vezes, não mais quer contato, diria que um amedrontamento rola solto no ar. Não a culpo. Mas confesso que as unhas cor-de-rosa e os brincos de adesivo caíram-lhe muito bem.
Terminada a Hani retorna a monotonia. A novela não sai daquilo, as pessoas no meu Messenger me parecem desestimulantes e todos os petiscos da minha geladeira não servem, são insípidos. Tenho uma palavra para descrever o que sinto nesse momento: agonia. Eu preciso de algo pra fazer! Mas o que? O que? O queeeeeeee?
Pintei minha boca de verde e comecei a pular. Fiquei pulando por uns 10 minutos, daí cansei. Minha mãe ficou olhando com cara de espanto. Uma pessoa de quase 18 anos (faltam apenas 4 dias), com um pijama sujo de Nescau, a boca verde e o cabelo despenteado pulando pela casa não lhe pareceu algo normal. Mas não disse nada além de: “Você sairia na rua com esse batom?”
Ainda não respondi essa pergunta. Mas vou levar o batom na bolsa amanha, quando sair de casa...

quinta-feira, 25 de março de 2010

O Arroz e Suas Cores

Semana passada resolvi fazer arroz. Bateu aquela fome e fui pra cozinha. Podem duvidar de meu potencial culinário, mas certamente estava ótimo! Comi o quanto meu estômago suportou e mais tarde fui dormir. A panela ficou lá, no fogão.
Uma semana de correria se passou. Notei um absurdo, o arroz ainda estava lá, no fogão. Fiquei aflita.
Cá entre nós, quem tem coragem de abrir uma panela dessas? Se é que pode ser chamada de panela, era uma bomba. Sem escolhas, tampei o nariz, a boca e quase os ouvidos também, fui em frente... Abri. Provavelmente lhe surgiu uma cena degradante, mas por incrível que pareça, foi foda, no sentido bom da palavra.
Eu estava imaginando algo com cara de sujo, muito fedorento; entretanto estava lindo. Pasmem. Eram tantas cores, tinha uma parte cor-de-rosa. Tinha verde, amarelo, alguns grãos meio azulados... Lindo! Claro que a maior parte estava peluda, mas era uma textura aveludada, algo delicado. Se não soubesse que era meu arroz da semana passada, compraria para ornamentar minha sala. Com relação ao cheiro, não vou dizer que era o odor mais agradável, mas mantendo alguma distancia não faria mal a ninguém.
Amável essa natureza. Quando eu pensava em um arroz agourento, me presenteou com um paraíso de cores. Surpreendente. Pode ter sido, também, uma traquinagem do tal grãozinho. Se fez passar por estragado, me manteve afastada, mas no final das contas, percebi sua beleza. Agora penso: Seríamos nós grãos de arroz?
Já subestimei muitas pessoas, vezes pela aparência, vezes por seu jeito e quem sabe por seu cheiro também... Por outro lado, muitas já me surpreenderam, mesmo depois de minha atitude precipitada. Com o tempo, pude ver as qualidades de cada uma (as cores!). Quem sabe as coisas não são realmente melhores à segunda vista? No caso do arroz não aconselharia comê-lo, mas é algo fascinante para se pensar.
Acho que todos deveríamos dar uma segunda chance, seja para a comida em decomposição ou para a pessoa que você julga ser estranha. Faça o test-drive. Depois tire suas conclusões.

terça-feira, 2 de março de 2010

Yoshi

Pequena Juliana comemorava seus oito aninhos de idade. Mamãe pergunta: “Quer o quê de presente filhinha?” e a menininha diz: “Um Cachorro!”
Bom, foi aí que tudo começou...
Fomos a uma pet store, procuráva-mos por um poodle. Devia ter uns seis lá na loja, todos galgando e grunhindo. Exceto por aquele menorzinho, lá no cantinho. Fitava-me sem intermediar. Parecia mais feliz que os outros, não era uma felicidade insana. Ele não pulava, apenas observava com carinha de sabido. Sua cor era diferente da de seus irmãos. Branco, porém avermelhado nas extremidades. Só tinha olhos para ele.
Toquei seu pelo, posicionei seu corpinho em meu colo desajeitado de criança. Clamei: “É ESSE!”.
Pude ficar com ele por um dia, só nos encontraríamos definitivamente depois que desmamasse. Dia marcante, feliz, desconcertante, inesquecível. Lembro do hálito de filhote me lambendo enquanto rolava no tapete da sala. Mordia-me com suas gengivas rosadas. Ainda não tinha dentinhos. Fazia cócegas. Hora de levá-lo de volta para sua mãe.
O tempo demorava a passar. O dia chegou. Fui buscá-lo. Lá estava ele, paradinho observando minha aproximação. Seu único movimento era o da cauda, balançava tão rápido que mal se podia ver. Chegamos em casa e seu latido não deixava dúvidas, sabia que era seu lar.
Hoje estou aqui, refletindo. Pessoas de tantos gêneros, nesses nove anos, já passaram por minha caminhada e se foram. Muitas não acrescentaram nada. Mas o Yoshi está aqui. Dorme no chão, toma banho uma vez por semana, come do mesmo todos os dias e apanha muito por urinar em locais inapropriados. Já ouviu meus gritos, choros, risadas, segredos, loucuras... Tenho certeza, não há no mundo alguém que agüentasse tudo isso. Ele agüenta. Maior que essa habilidade, é a que ele tem de perdoar. Posso gritar um dia inteiro, ele apenas abaixa a cabeça. Mas ao dar um mísero olharzinho de arrependimento, lá vem o peludinho, balançando seu rabinho. Consigo ver seu sorriso sob os pelos. Já me perdoou. Quando saio, às vezes por menos de 10 minutos, e volto pra casa, está me esperando na porta, latindo, em todas as vezes. Amor, amizade, devoção. É completamente grato por tudo que tem, mesmo não sendo muito. Sinceridade, sempre com boas intenções.
Mal sabe, entretanto me acrescentou muito. Minha infância, você está escrito nela. Faz parte dela. Agora, em sua velhice, te darei tudo que precisar. Você merece mais do que qualquer ser humano. Obrigada amicão.

Te Amo Yoshi!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Maratona


Liberdade sempre está em pauta. Cada vez queremos maior amplitude de expressão. Podemos ir e vir, falar, gritar, mudar de atitude ou ter uma personalidade bruta. Estamos sempre fazendo escolhas; escolhas que nos levam às obrigações. O tempo vai passando e os dias parecem mais curtos. Nunca suficientes para nossa agenda conturbada. Tarefas vão se acumulando. Vão surgindo orgulhos e arrependimentos e quando se erra, os mais próximos dizem: “Dê tempo ao tempo”.
Pessoas realmente acham que deveríamos dar mais tempo ao tempo? Mas que atitude equivocada! Não o temos nem para nós mesmos e estão querendo fornecer mais para seu criador?
A verdade nua e crua é a seguinte: estamos aprisionados (doeu?!). Podemos mudar muito nessa vida, mas com o tempo, não se mexe. Ele nos vai empurrando ao passar dos dias, noites, meses... E quando parar para perceber, tampouco estará parado, o danadinho não tira folga. Enquanto pensa, ele te empurra.
Habitue-se a isso. Está aí algo que o ser humano é incapaz de alcançar.
Faça tudo que estiver ao seu alcance, pare de adiar. O amanhã está pertinho, não terá tempo para o dia de ontem.
É a corrida conhecida como vida. O ritmo é o Tempo.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O Outro Lado

Na ausência de machos, as fêmeas pingüim procuram outras fêmeas para criar seus filhotes. Sim, elas mantêm relações sexuais. Os machos, por sua vez, ou talvez por inveja, costumam fazer o mesmo, mas sem os filhotes como desculpinha. Duas teorias:
1)Seleção evolutiva. Impede o aumento excessivo das populações e mantêm ativos os solteirões que estão sem alguém fixo.
2)Exposição a muita poluição.
Poluição?!
Cerca de 20% das pessoas apresentam características homossexuais. Aumenta a população, aumenta o numero de gays.
Vamos agora para a China (é só um exemplo). Formigueiro humano. Abriga quase um quinto da população terráquea. Uma suposição: Todos “china-gays” são retirados e substituídos por heterossexuais. Uma conclusão na suposição: Pessoas teriam que aprender a viver no oceano.
Meu amigo Freud me disse uma vez que há uma bissexualidade natural em todos e o heterossexualismo só é predominante pela presença de um instinto biológico. Acreditei.
Outra disparidade é que a espécie humana faz sexo por prazer, o que nos mostra a bissexualidade existente nas pessoas, já que a troca de prazeres entre pessoas de mesmo sexo é totalmente possível. Somos sensíveis ao toque.
Vamos encarar os fatos. Os negros eram descriminados por seu passado afligiste sempre subalternos aos brancos. Hoje um mulato é presidente dos EUA.
A liberdade de expressão está cada vez mais ampla. Se no tempo em que estamos vemos tantos gays por aí, significa que agora podem assumir sua verdade. Quando se ama não sente vontade de gritar para o mundo todo?
Deixemos essa cegueira moral de lado, homossexualidade está aí e acredite ou não, é natural.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Lar Doce Lar

Sexta-feira. Indivíduos ansiando seu sofá e um bom café. Não querem mais nada exceto seus lares. Localidade pacífica; confortante. Acomodam-se em suas salas encarando aparelhos televisores procurando apenas relaxar. O cair dos olhos acompanhando o da noite levam-nos a rumorejar para si mesmos: lar doce lar.

Sexta-feira. Final de tarde cálido; calidez que me leva a sair de casa. Desloco-me para a praça mais próxima acompanhada de meu quadrúpede domesticado. Sento-me e deixo o tempo passar com o vento. Sensação agradável. A tarde vai caindo e a noite já não pode mais passar despercebida. Postes acesos iluminam o terreno cheio de adornos. Começo a pensar nas cores, belas cores! O céu encaixa-se perfeitamente ao gramado e mesmo ao breu trazem vista tremendamente agradável. Queria poder sentir a vista na pele, deitei no jardim para as folhas me tocarem. Meu corpo exalava serotonina neste instante. Foi quando naturalmente pularam três palavrinhas da minha boca: lar doce lar.

Meu lar encontra-se do lado de fora da porta.
Uma descoberta,
O Mundo.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

AmNésia

Nésia é a empregada da minha avó. Aos 60 e poucos anos e há mais de 40 fazendo parte da família ela teve tempo o suficiente de pôr à vista suas qualidades e defeitos e o mais engraçado é que em sua maior qualidade está inserido seu maior defeito. A Nésia tem uma memória surreal. Se lembra de cada detalhe e de cada parte da vida de cada um. Antes fossem memórias usadas com sabedoria, mas não; é uma fofoqueira de primeira. Imperfeições à parte, estou aqui pelos bons predicados. Como é enredador possuir extraordinária memória. Estive raciocinando: será que com meus 18 anos de vida tenho mesma capacidade de armazenamento dessa exemplar funcionária? Ultimamente tenho percebido que não. Cada indagação direcionada a mim é um infortúnio. Sou incapaz de recordar-me de amigos que pernoitaram em casa ou mesmo do meu almoço da semana passada. Esqueço nomes, aniversários e acontecimentos que todos lembram e insistem em me importunar até que recorde. Até simpatizo com esse esforço alheio, todavia não me traz ajuda além dessa única lembrança. Comecei a criar um programa de exercícios para a conservação da memória. Palavras cruzadas, sudoku, dicionários e fotos. Meio cansativo. A Nésia nunca careceu desses artifícios. Ela fofoca.
Cada um, cada um.
Já deu pra perceber que de Nésia não tenho nada, né?! Estou mais pra amNésia.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O Amor e o Tédio

Tarde de quarta-feira e me vejo dentro do ônibus com três amigas maravilhosas. Como sou uma “pessoa que gosta de expor suas idéias o tempo todo” (pseudônimo para tagarela), comecei a conversar. Novas paisagens surgiam pelo trajeto, junto a elas novos assuntos e a cada novo assunto mais um comentário sobre seus respectivos namorados, na maioria, críticas. Como a única solteira do grupo e meio desfocada, as dúvidas começaram a surgir como em uma panela de pipocas. Eram muitas, faziam barulho e vinham todas ao mesmo tempo. Antes que pudesse segurar minha língua mais um pouco, já tinha soltado a tal pergunta: “você o ama?”. A resposta era óbvia, todas responderam que sim. A segunda pergunta foi bem parecida, mas não menos importante, pois seu real significado era outro. Perguntei: “vocês estão apaixonadas?”.
Houve um silêncio momentâneo entre conversas perdidas e o barulho do motor. Não obtive nenhuma resposta concreta, todas fugiam um pouco do contexto. Ouvi um “ah! Começo de namoro é sempre maravilhoso” e um “depende do dia”. Como assim?
Por que a paixão que vem no mesmo pacote do amor acaba antes? Será que foi um erro do entregador? A única e pequena conclusão que tive foi: rotina é uma bosta! Não conseguia digerir isso.
Estaria eu feliz nessa situação? Eu deixaria uma relação chegar nesse ponto? Duas perguntas e nenhuma resposta.
Realmente, nada como viver pra aprender. Correr atrás dessas respostas antes do tempo não estaria em sintonia com a vida. A minha vez de escolher entre a rotina e a quebra dela chegará. Espero.

Bourgogne Bouton (o botão vermelho)

O alarme toca. Abro os olhos e deparo-me com o estrado da beliche. Em dias comuns apenas levantaria, mas hoje não, o estrado não me olhava normalmente. Paralisada comecei a perceber suas semelhanças com uma cela. Me senti prisioneira daquele lugar; e como todo bom prisioneiro mantive-me lá. Por horas pensei sobre a tal prisão, que por mim foi apelidada de "confinamento de férias". Quanto mais insistia no assunto mais abismada ficava.
Três horas já haviam se passado então achei melhor levantar. Fui às minhas tarefas diárias e no momento em que pisei na cozinha os problemas (realmente) começaram. Era como se estivesse revivendo o ontem, estava agindo como ontem; e como uma grande pancada uma percepçao surgiu: a prisão não era a beliche, e sim a rotina como um todo. Do lado de fora da janela estava um dia lindo, lindo mesmo, e insistia em manter-me imóvel dentro do pijama e o que era pior, dentro do meu "confinamento de férias".
Comecei a andar pela casa com uma grande esperança de encontrar um botão vermelho piscando. Apesar de saber que seria impossível, continuei minha busca. Gostaria apenas de pressioná-lo e abandonar esse jogo de mau gosto.
Ouvi um barulho e interrompi a busca para atender à porta. Abri e deparei-me com a Realidade, que disse-me apenas: Não é um jogo, é a vida .
Fechei a porta com uma grande decisão em mente. Amanhã vou passear com meu cachorro.