domingo, 2 de setembro de 2012

O Nada

   No meio do nada apareceu um objeto. Assim mesmo, do nada.
Mas não era um nada qualquer, era um nada observado. Foi quando o observador resolveu nomear o objeto incomum de XHZ-072, por motivos que não vem ao caso. Ao ser nomeado, o objeto mudou sua forma peculiar para algo parecido com uma esfera. Então o observador passou a chamá-lo de bola. Revoltado, o objeto mudou novamente sua aparência, dessa vez ficando parecido com um quadrado de linhas espessas, e mais uma vez o observador mudou seu nome e começou a chamá-lo de janela. E assim permaneceu o objeto, por muito tempo, em forma de janela.
   O observador revoltado com a forma quadrada que o objeto tinha tomado resmungou sozinho: “Te conheci tão diferente, o XHZ-017 tinha ondas coloridas, formas inusitadas, e ao passar do tempo vi em você apenas uma janela... uma janela sem movimento, apenas um quadrado idiota”.
   Foi quando o objeto pela primeira vez falou: “Nunca deixei de ser o que fui, me tornei o que você quis ver, você é apenas um mero observador que nas tentativas de me nomear não percebeu que o nada é uma folha sulfite em sua escrivaninha e que eu continuo com meu brilho que seus olhos sedentos de coisas óbvias acabou por apagar. De início, fui o que realmente sou, hoje me desenhou por cima. Quem sabe se fechar os olhos e me deixar guiar a ponta do lápis eu possa tomar a minha verdadeira forma e te mostrar que seus olhos de tão abertos terminaram cegos ”.

   Cuidado desenhista, a pressão acaba por quebrar a ponta do lápis.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Alvenaria da vida

Surgimos ali, do nada. O que podemos ver é um grande amontoado de barro. Um passo, um tijolo. Dois passos, um pedaço de sua base. Alguns anos, uma parede e incrustadas nela, suas experiências. Mas e agora? Escondi alguns tijolos! Tijolos que me incomodam, talvez queira destruí-los. Destruí-los? Não, não quero destruí-los! Quero guardá-los para mim, apenas. A questão é: por que quero tanto esconder algo que me trouxe até aqui?

Dor, dor foi a única resposta por mim encontrada. O medo da dor. O medo do julgamento. O medo de não ser amada. Mas espera... A palavra certa não seria medo? Independente do que for ambos assustam. Assustam-me... Assustavam-me. Parei para pensar se sou realmente feliz com o que sou e aonde cheguei. E sou. Sou absurdamente feliz com cada pedacinho da minha personalidade, cada pedacinho do meu corpo, cada pedacinho meu. Eles se encaixam tão bem, são tão moldados uns aos outros, uma verdadeira obra, e feita por mim. Céus! Vergonha da maior e melhor obra de arte da minha existência? Que equívoco tremendo. Vou empenhar-me em aprimorar, não em esconder.
O alívio chegou agora, que estou pronta para colocar todos os tijolos em seus devidos lugares. Não se engane ao ver uma parede defeituosa, afinal o defeito está nos olhos de quem vê. Essa é a minha casa, diferente da sua casa, diferente de qualquer outra casa. Nem grande, nem pequena, nem feia, nem bonita, porém cada uma com seu brilho. Cada estrutura tem sua singularidade, são os tijolos que fazem de você, alguém tão especial.

“Se as expectativas magoaram, foi porque me cativou. Obrigada.”