quinta-feira, 25 de março de 2010

O Arroz e Suas Cores

Semana passada resolvi fazer arroz. Bateu aquela fome e fui pra cozinha. Podem duvidar de meu potencial culinário, mas certamente estava ótimo! Comi o quanto meu estômago suportou e mais tarde fui dormir. A panela ficou lá, no fogão.
Uma semana de correria se passou. Notei um absurdo, o arroz ainda estava lá, no fogão. Fiquei aflita.
Cá entre nós, quem tem coragem de abrir uma panela dessas? Se é que pode ser chamada de panela, era uma bomba. Sem escolhas, tampei o nariz, a boca e quase os ouvidos também, fui em frente... Abri. Provavelmente lhe surgiu uma cena degradante, mas por incrível que pareça, foi foda, no sentido bom da palavra.
Eu estava imaginando algo com cara de sujo, muito fedorento; entretanto estava lindo. Pasmem. Eram tantas cores, tinha uma parte cor-de-rosa. Tinha verde, amarelo, alguns grãos meio azulados... Lindo! Claro que a maior parte estava peluda, mas era uma textura aveludada, algo delicado. Se não soubesse que era meu arroz da semana passada, compraria para ornamentar minha sala. Com relação ao cheiro, não vou dizer que era o odor mais agradável, mas mantendo alguma distancia não faria mal a ninguém.
Amável essa natureza. Quando eu pensava em um arroz agourento, me presenteou com um paraíso de cores. Surpreendente. Pode ter sido, também, uma traquinagem do tal grãozinho. Se fez passar por estragado, me manteve afastada, mas no final das contas, percebi sua beleza. Agora penso: Seríamos nós grãos de arroz?
Já subestimei muitas pessoas, vezes pela aparência, vezes por seu jeito e quem sabe por seu cheiro também... Por outro lado, muitas já me surpreenderam, mesmo depois de minha atitude precipitada. Com o tempo, pude ver as qualidades de cada uma (as cores!). Quem sabe as coisas não são realmente melhores à segunda vista? No caso do arroz não aconselharia comê-lo, mas é algo fascinante para se pensar.
Acho que todos deveríamos dar uma segunda chance, seja para a comida em decomposição ou para a pessoa que você julga ser estranha. Faça o test-drive. Depois tire suas conclusões.

terça-feira, 2 de março de 2010

Yoshi

Pequena Juliana comemorava seus oito aninhos de idade. Mamãe pergunta: “Quer o quê de presente filhinha?” e a menininha diz: “Um Cachorro!”
Bom, foi aí que tudo começou...
Fomos a uma pet store, procuráva-mos por um poodle. Devia ter uns seis lá na loja, todos galgando e grunhindo. Exceto por aquele menorzinho, lá no cantinho. Fitava-me sem intermediar. Parecia mais feliz que os outros, não era uma felicidade insana. Ele não pulava, apenas observava com carinha de sabido. Sua cor era diferente da de seus irmãos. Branco, porém avermelhado nas extremidades. Só tinha olhos para ele.
Toquei seu pelo, posicionei seu corpinho em meu colo desajeitado de criança. Clamei: “É ESSE!”.
Pude ficar com ele por um dia, só nos encontraríamos definitivamente depois que desmamasse. Dia marcante, feliz, desconcertante, inesquecível. Lembro do hálito de filhote me lambendo enquanto rolava no tapete da sala. Mordia-me com suas gengivas rosadas. Ainda não tinha dentinhos. Fazia cócegas. Hora de levá-lo de volta para sua mãe.
O tempo demorava a passar. O dia chegou. Fui buscá-lo. Lá estava ele, paradinho observando minha aproximação. Seu único movimento era o da cauda, balançava tão rápido que mal se podia ver. Chegamos em casa e seu latido não deixava dúvidas, sabia que era seu lar.
Hoje estou aqui, refletindo. Pessoas de tantos gêneros, nesses nove anos, já passaram por minha caminhada e se foram. Muitas não acrescentaram nada. Mas o Yoshi está aqui. Dorme no chão, toma banho uma vez por semana, come do mesmo todos os dias e apanha muito por urinar em locais inapropriados. Já ouviu meus gritos, choros, risadas, segredos, loucuras... Tenho certeza, não há no mundo alguém que agüentasse tudo isso. Ele agüenta. Maior que essa habilidade, é a que ele tem de perdoar. Posso gritar um dia inteiro, ele apenas abaixa a cabeça. Mas ao dar um mísero olharzinho de arrependimento, lá vem o peludinho, balançando seu rabinho. Consigo ver seu sorriso sob os pelos. Já me perdoou. Quando saio, às vezes por menos de 10 minutos, e volto pra casa, está me esperando na porta, latindo, em todas as vezes. Amor, amizade, devoção. É completamente grato por tudo que tem, mesmo não sendo muito. Sinceridade, sempre com boas intenções.
Mal sabe, entretanto me acrescentou muito. Minha infância, você está escrito nela. Faz parte dela. Agora, em sua velhice, te darei tudo que precisar. Você merece mais do que qualquer ser humano. Obrigada amicão.

Te Amo Yoshi!