quinta-feira, 18 de junho de 2015

Epifania

     Meia noite, insônia. Deitei e forcei o sono para conseguir ir pra aula de manhã. Acordei com o despertador, ao desligá lo, percebi que não estava em casa. Caminhei poucos metros até algo que parecia um totem, onde havia um bilhete com poucas e confusas palavras: "enxergue a saída". 
     Amedrontada, caminhei rapidamente tentando observar algum escape, mas a cada passo mais neblina surgia. Nada se podia enxergar. A sensação era estranha. Percebi que não estava sozinha. Suaves brisas batiam, cada hora de uma direção, cada hora trazendo um sentimento. Minha cabeça começou a doer e repentinamente me vieram memórias atropeladas por memórias. Concomitantemente surgiram imagens irreais de futuros. Era um turbilhão de pensamentos e dúvidas. Eu esfregava os olhos e tentava enxergar a saída, mas nada podia ver, apenas os filmes passavam por minha mente e me perturbavam. Sentei e comecei a chorar. Chorar de dor, desespero, mas acima de tudo, de incertezas. Via ali mil possibilidades de escolhas, futuros. Gritei. Foi quando as imagens saíram da minha mente e solidificaram, a neblina se esvaiu. 
     Centenas de portas surgiram ao meu redor, cada uma transmitindo como em telas, um plano diferente da minha vida. Eu podia enxergar agora, porém, mais do que suportava. "Enxergue a saída", pensava. Fechei os olhos pra tentar apagar as visões por pelo menos um segundo e senti a tal presença que me acompanhava. Era interna. Algo em mim me dizia o que fazer e não me deixava sentir solidão. Era como uma voz que não usava palavras, mas sabia o que era certo. Caminhei pelo ambiente com os olhos fechados, a cada porta que se aproximava, sinestesia. Umas me deram frio cinza, outras excessivo calor em camurça. Segui assim por todas, até que a voz sinestésica me "dissesse" para entrar. Foi quando chegou a porta. Aquela porta. Ela era calorosa, porém delicada como seda e azul como alegria. Eu seguia com os olhos fechados, não podia ver o que se transmitia nesse futuro, mas sabia que era ela, a porta. 
     Acompanhada pela voz, pela ansiedade que esses sentimentos me causavam e pela taquicardia, mais pra arritmia, decidi que era a certa. Entrei. Senti que meu coração parou por alguns segundos, uma voz alta e clara ressoou: certas coisas não se enxergam com os olhos, minha menina. Um apito cortou todo o momento, abri os olhos, tinha acabado o tempo de soneca do despertador.

10 comentários:

  1. Profundo e.. psicodélico!!

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  2. ai ja tava pensando numa saga épica estilo nárnia.... senhor dos aneis, mas era um sonho!!

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  3. Entremeio de epifanias, confusões, angústias, anseios e riscos...é que de fato encontramos a nossa saída. Ótimo texto, profundo sentimento...Espero ansioso pelos próximos devaneios e espero que mais arrítmicos ainda!

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  4. Parabéns Jú. Um belo texto que mostra teu potencial e pede continuidade e constância. Investe que vale muito a pena!

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  5. Minha querida menina....admirável capacidade de expressar com palavras contos que nos fazem viajar e participar deles pôr momentos. Parabéns. Escreva mais, nos presenteie com o prazer dessas leituras.

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